quarta-feira, 9 de julho de 2008
Sistema cada vez pior....
Hoje vou falar é do grau de precariedade ainda vigente nas relações de consumo no Brasil. Demonstram o desrespeito adotada pelas operadoras de telefonia e internet do Brasil, e, no particular, a desastrosa estratégia de assédio bolada pela Way Internet para tentar manter os muitos clientes que se encontram insatisfeitos com os serviços prestados.Porra! Um parágrafo sem falar palavrão?!Caralho, estou melhorando.
Quinta-feira, 10 de Julho, 08h07. Do outro lado da linha, o serviço automático de atendimento da Way Internet. Aperto as teclas que me mandam para ser atendido. Antes de me remeterem ao inferno de quase uma hora ao lado de uma atendente diabólica, me pedem para, ao final, dar uma nota sobre a qualidade do atendimento. Será a minha vingança, mas, por ora, voltemos ao começo. Disco todos os números e espero, finalmente, que um ser humano me atenda do outro lado. Quero fazer inferno. Antes, contudo, vem uma musiquinha irritante, de três acordes, meio buzina, meio bateria eletrônica. Superposta a ela, começam as propagandas.
A musiquinha ganha fôlego. E tome propaganda. “Você já tem o seu Oi total?”. Eu não consigo, ninguém consegue, mas descubro – oh! – Basta eu fechar um pacote com eles, que porra é essa!?. “E muito mais!”. Adoro isso.Como pude viver até hoje sem perder uma hora da minha manhã ouvindo os reclames da Way Internet? Puta que pariu!
São 08h19, Estou ouvindo propaganda há 10 minutos, e nem sei se estou pagando essa ligação. Preciso lembrar de perguntar ao atendente, se ele me atender, é claro e perguntar se é ela que vai pagar minha conta de telefone! A musiquinha não pára. Mas não vou desistir. Acho que eles percebem o meu espírito perseverante porque, após um último informe sobre os serviços sobre Oi Total, sou finalmente atendido por alguém em carne osso. O nome dela é Ana Raquel. São 08h24
Ana Raquel é da infantaria do telemarketing da Way, percebo logo. Ela não quer saber de frescura nem de desculpa besta.
- Quer cancelar a conta? Por quê? Qual o motivo? Alguma coisa ocorreu?
Logo já, eu com meu mau humor, que para azar dela, dispertou a mil por hora, disparo milhões de motivos, inclusive perguntando quem iria pagar meu terapeuta!
Ana Raquel fica furiosa. Nem respira. Dispara uma metralhadora verbal que me deixa aturdido. - É um motivo pessoal? Que motivo pessoal? Olha, o senhor está querendo cancelar uma conta muito boa, um pacote excelente.(De TV e Internet) Não quer transferir para outra pessoa? O senhor pode transferir para outra pessoa! Uma boa ação faz o mundo melhor!
Detalhe: Eu nao ia cancelar, só queria fazer inferno.
São 08h42 e eu preciso trabalhar. Digo isso para Ana Raquel, mas ela não foi treinada para ter piedade. Na Way a ordem, imagino, é nunca perder um cliente, nem que para isso seja preciso azucriná-lo, tomar-lhe o tempo de trabalho e deixá-lo plantado por uma hora apenas para cancelar uma conta. Ana Raquel insiste, sabe que estou trocando a empresa dela por outra, quer saber o nome, quer saber o porquê dessa traição. Perco um pouco a paciência.
- Ana Raquel, você pode, por favor, cancelar a porra do meu pacote, porque eu preciso trabalhar?(Eu estava na esperança de alguma promoção!)
- Mas eu nunca disse que não podia, eu só quero saber por que o senhor quer cancelar.
- Por que quero porra.
- Mas qual motivo? O senhor trocou de provedor por que, afinal?
- Achei a logomarca da outra mais bonita.
Foi um erro. Jamais deveria ter usado de ironia com Ana Raquel. Naquele momento, soube que tinha arranjado uma inimiga feroz dentro do sistema. Iniciei, então, uma batalha sinistra com a atendente da Way.
São 08h57. Ana Raquel muda o tom de voz, torna-se fria, pragmática. Pede o meu número do CPF, a data de nascimento, o nome completo. Diz que vai “analisar” minha conta e pede para eu aguardar. Eu arrisco uma ofensiva, mais não quero cancelar, mais quero uma promoção.
Silêncio do outro lado da linha. Ana Raquel deve estar fazendo consultas no manual de atendimento. Tenta entender minha estratégia, descobrir o que está errado. Talvez até tenha chamado o supervisor. Passados seis minutos, tenho a impressão de que ela desligou. GRITO de novo.
- Alô?
Ana Raquel reaparece, tem a voz gélida. Põe em prática o tratamento dispensado pela empresa aos traidores.
- Aguarde mais um instante, por favor.
Eu aguardo. Estou disposto a não desistir.
Ana Raquel é o Osama, eu, Bush. Mas não vai ser fácil.
- Senhor, estou verificando seu pacote, ela tem muito mais economia em relação a qualquer outro plano.
Ah, essa é Ana Raquel. Incansável. Chego a admirá-la. Em outras circunstâncias, poderíamos mesmo ser amigos. Mas agora eu tenho que derrotá-la, e não vou abrir mão disso. Ela tenta me alertar para as “propagandas fantasiosas” dos outros provedores, do erro que estou cometendo ao abandonar a Way por outra empresa de “qualidade inferior”. Estranho, ela nem sabe qual é a outra empresa. Mas Ana Raquel é assim, despreza detalhes bobos.
- Matematicamente falando, o senhor vai pagar excedente no outro provedor
Ana Raquel quer me enlouquecer, matematicamente falando. Mantenho a atitude, sei que ela está ferida por conta da minha ironia lá de cima, mas, principalmente, pela minha posição irredutível e pelos meus palavrões. Aproveito o momento de fraqueza dela. Em vão.
- Trocar o certo pelo duvidoso é uma coisa incerta.
São 09h15. Começo a temer pela saúde mental de Ana Raquel. Ela tem meus dados, meu endereço. Pode querer se vingar. Eu não devia ter feito aquela gracinha da logomarca. Nos cinco minutos seguintes, ela passa a alternar silêncios com um tenebroso “aguarde mais um pouco, por favor”. Às 09h20, ela tenta de novo.
- Tenho que preencher o espaço da justificativa para o cancelamento da sua conta. Coloco que foi porque o senhor achou a logomarca mais bonita mesmo?
É só uma ligação, mas pude sentir o cheiro de enxofre. Ana Raquel é muito melhor treinada do que eu imagino. Agora ela veio com ironia para cima de mim. Por essa eu não esperava, Ana Raquel tem reações subjetivas! Se eu fosse supervisor dela, a promovia. Mas sou só o inimigo. Preciso vencê-la.
- Sim, para mim está ótimo, a logomarca de vocês é muito sem graça, até eu com o "paint" faço coisa melhor.
- E nome do provedor?
- Prefiro não falar.
- Então, aguarde. Qualquer dúvida, é só me chamar.
São 09h45. Estou há mais de uma hora tentando cancelar, alias, ganhar alguma coisa. Penso em desligar. Estou cansado, o celular está queimando a minha orelha, mas penso em Ana Raquel, vitoriosa do outro lado, a comentar com as colegas, “venci mais um”. Mantenho minha posição. Ela me pergunta se a próxima fatura pode ser mandada para o mesmo endereço. Digo que sim. Pergunta-me o nome do novo provedor. Digo que não é preciso. Isso a deixa realmente frustrada. A voz dela perde os agudos, parece um sussurro de morte.
E nada da porra da minha promoção...
- Então, vai ficar incompleto aqui.
Eu aproveito para tripudiar.
- Por mim, não tem problema.
Aguardo mais um tempo. Há seis ligações em espera no meu celular. Estou exausto, irritado, cheio de ódio no coração, mas Ana Raquel não pode perceber. Fico pensando como deve ser viver em um país onde você não precise explicar para a atendente as razões que o levaram a mudar de operadora. Algo como “disque 7 e cancele sua internet, muito obrigado”. Em dois minutos, no máximo. Sem Anas Raquels, sem o deboche de ter que esperar uma hora para fazer uma coisa dessas.
Mais no fim não aguentei. Me rendi a maldita Ana Raquel. E soltei " Ana Raquel, quero que você registre minha reclamação que desde ás 04h30 eu não navego e não é você que vai pagar minha conta de luz, ou é?!Pois bem, da proxima vez eu vou cancelar, e se tiver que esperar mais de 15 minutos pra isso, irei ligar diretamente pra Anatel."
Ana Raquel, por sua vez, que deve estar rindo por dentro (puta, piranha, vagabunda, vadia, prostiranha!) só disse:
- Excelente escolha senhor.
Desligo e sinto vontade de me jogar de cima de um prédio. Ela venceu.
Isso foi uma aula de como começar bem o dia.
Thyago Neves
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